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Apagão no Amapá piora atendimento a Covid-19 em momento de nova onda

Na casa do professor Salomão Prata, 46, a mulher, Antônia, e as duas filhas jovens tiveram sintomas de Covid-19, como febre, dor no corpo e dor de cabeça. Na terça-feira

Por Naldo Cerqueira em 11/11/2020 às 10:04:54

Na casa do professor Salomão Prata, 46, a mulher, Antônia, e as duas filhas jovens tiveram sintomas de Covid-19, como febre, dor no corpo e dor de cabeça. Na terça-feira (3), a família compareceu à UBS Santa Inês e foi orientada a retornar no dia seguinte para a realização dos testes.

À noite, um apagão deixou 90% da população no escuro, provocado por um incêndio nos transformadores de uma subestação de distribuição de energia. Prata e a família voltaram à UBS no dia seguinte, mas já não havia qualquer possibilidade de realização do teste RT-PCR, em razão da falta de energia para armazenar o material coletado.

“Eles nos disseram que, caso fosse instalado um gerador de energia, seria possível”, afirmou o professor. Ele voltou com as filhas nos dias seguintes, e só foi possível fazer os testes rápidos, cujo resultado foi negativo. “Este teste não é conclusivo. Vou continuar na dúvida.”

Nesta terça, Prata e a mulher estiveram outra vez na UBS. Ela ainda sente os sintomas da Covid-19. O encaminhamento foi para um teste rápido, em razão da falta do teste mais preciso.

A família vive numa cidade vizinha a Macapá, Santana, no bairro Remédio 2. Os efeitos do apagão ainda são sentidos, sem previsão de fim.

Um racionamento estabelecido pela companhia de energia deixa a casa do professor sem eletricidade de 0h às 6h e das 12h às 18h. “Ninguém dorme nesse calor”, disse Prata.

Em Macapá, por causa do calor úmido e intenso, é comum a existência de aparelhos de ar condicionado nas casas. Os aparelhos mais modernos são chamados pelos moradores de centrais. Dormir, em dias de apagão e racionamento, ficou bem mais difícil.

Na UBS Lelio Silva, o apagão provocou a transferência de pacientes com suspeita de Covid-19. Um deles foi o pai da vendedora autônoma Loiany Silva, 32.

Medicado na veia, com parte dos pulmões comprometida, ele precisou ser levado para um dos hospitais de referência destinados a atender esses pacientes quando todo mundo ficou no escuro na UBS.

Outros três pacientes também precisaram ser transferidos. O pai de Silva recebeu alta médica e não retornou à UBS. Segundo a vendedora, o teste feito deu negativo para Covid-19. “Meu pai tem pneumonia. Foi levado para um hospital onde só tinha pacientes com Covid. Ficou lá sozinho, sem acompanhante, pois era proibido”, disse.

Foto: Reprodução/Twitter

Segundo a vendedora, o pai segue precisando de internação hospitalar. Na tarde desta terça, ela estava na UBS Lelio Silva acompanhando a filha, de 16 anos, que também tem sintomas da doença.

Na UBS, são feitos os primeiros atendimentos, com classificação de risco, avaliação médica, aplicação de medicação e exames laboratoriais. Se o paciente se encontra em estado grave, é estabilizado e transferido para hospitais de referência.

Profissionais de saúde relatam que o pico da doença em Macapá foi em maio. Caiu consideravelmente até setembro. Na UBS Lelio Silva, eram atendidos naquele mês, por dia, cerca de 80 pacientes com suspeita de infecção pelo novo coronavírus. Agora, são cerca de 300.

O que está ocorrendo na cidade, em razão do apagão, deve provocar um aumento de casos até fevereiro, segundo a expectativa desses profissionais de saúde que estão na linha de frente das unidades de saúde.

Falta água, em razão da falta de energia; há bairros onde a eletricidade ainda não voltou de maneira satisfatória; e as pessoas ainda se aglomeram em longas filas nos bancos, nas lotéricas, nos supermercados e em postos de gasolina.

Há fila para comprar gelo, por exemplo, ou para fazer depósito num caixa eletrônico, o que pode consumir uma hora.

Silva se acostumou aos protestos em seu bairro, Congós, mais distante do centro de Macapá. Já houve pelo menos três manifestações dos moradores pelo restabelecimento da energia. Na casa dela, o racionamento é ainda mais rigoroso: à noite, a eletricidade só aparece por uma hora.

Moradores queimam pneus e colchões nos protestos. O policiamento foi reforçado, numa tentativa de evitar novas manifestações.

Já a UBS Álvaro Corrêa tem um forte cheiro de diesel queimado na porta. Um barulhento gerador, colocado na frente da unidade de saúde, vem garantindo o atendimento médico aos pacientes com suspeita de Covid-19. Ele complementa a energia fornecida.

O gerador foi instalado somente nos últimos dias, o que permitiu o retorno do atendimento 24 horas, interrompido em razão do apagão. Um caminhão-pipa garante o fornecimento de água.

Os funcionários desligam as centrais de suas salas para permitir que o ar condicionado funcione nos ambulatórios e demais espaços ocupados por pacientes.

A diretora da UBS, Enyelen Sales, trabalha com o aparelho desligado. O calor é quase insuportável. “Os testes estão sendo feitos aqui, tanto os rápidos quanto o RT-PCR e o sorológico, para contraprova. Estávamos usando gelo para armazenar o material de sorologia”, disse ela.

Quando ocorreu o apagão, na noite da terça (3), a UBS havia atendido exatamente 300 pacientes até aquele momento do dia. Antes, no ponto mais baixo da curva da doença na capital do Amapá, eram cerca de 80 casos por dia.

Em razão do apagão, o Amapá deixou de fornecer dados diários sobre a incidência da Covid-19 no estado. A prefeitura de Macapá já precisou restringir atividades de bares, boates e da campanha eleitoral em razão do repique da doença.

Fonte: Banda B

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