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Pesquisador quilombola defende contraponto à história do Brasil: 'Além do ponto de vista colonial'

Por Naldo Cerqueira em 20/11/2021 às 06:48:45
No Dia da Consciência Negra, descendente de escravizados levanta debate sobre a necessidade de reformular a grade curricular escolar para reparação histórica às populações exterminadas no processo de colonização. Alagoano e quilombola, Zezito Araújo é pesquisador do Quilombo dos Palmares

Vivi Leão/g1

O Dia Nacional da Consciência Negra, celebrado neste sábado (20), reacende o debate sobre o racismo e suas raízes. Na luta contra o preconceito, o professor aposentado da Universidade Federal de Alagoas (UFAL) e pesquisador da história do Quilombo dos Palmares, Zezito Araújo, defende a reformulação da grade curricular escolar para que haja um contraponto à visão colonial da história do Brasil.

“Da mesma forma que se discute a luta de classes, onde se apresenta os filósofos com diferentes pontos de vista, a universidade deveria apresentar um proposta de alteração da grade curricular para que esse período da história fosse apresentado além do ponto de vista colonial, do ponto de vista em que índios e negros apresentem as narrativas sendo eles próprios os protagonistas da história”, defende Zezito.

O pesquisador é quilombola, descendente dos povos remanescentes dos quilombos, que abrigavam negros escravizados no regime escravocrata, e cobra que seja realizada uma reparação histórica às populações exterminadas durante o processo de colonização e da exploração econômica brasileira.

Para ele, a mesma universidade que forma os professores é que deveria promover essa mudança. Contudo, apesar de haver uma discussão sobre a necessidade de se destacar a narrativa protagonizada por negros e índios, ainda não há proposta formulada a ser apresentada.

“A história de Alagoas conta sobre a vitória de latifundiários sobre o índios, mas não trata dos Tapuias Cariri, exterminados pelos latifundiários no século XVII, e nem dos quilombolas mortos em 1694 para a ampliação dos latifúndios da cana de açúcar e para a criação de gado na região do São Francisco. Essas famílias são as mesmas que ainda detêm o poder econômico hoje”, questiona o pesquisador.

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Na sua avaliação, ainda é pequena a mobilização acadêmica para a alteração da grade curricular escolar, principalmente se considerar que a história do estado que abriga o maior polo da resistência negra do Brasil, o Quilombo dos Palmares, é sempre contada através da batalhas vencidas pelo homem branco, sem destaque para o extermínio de índios e negros.

“Essa proposta tem que partir das universidades. O que há hoje, apesar de já ser muito importante, é muito pouco para que isso seja uma norma educacional brasileira. Eu mesmo faço parte de um grupo de professores que promove cursos nesse sentido, mas se não houver uma participação mais ativa das universidades para que isso ocorra, não há como fazer essa reparação”, lamenta.

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A Serra da Barriga, no interior de Alagoas, abriga o principal polo de resistência negra, o Quilombo dos Palmares, que foi comandado pelo líder guerreiro Zumbi dos Palmares no século XVII. Para o pesquisador, esse é o ponto de partida para a revisão histórica necessária na educação.

"Foi a partir da historia da Serra da Barriga que nós começamos a revisitar a história do Brasil sob uma perspectiva da luta de classes diferenciada da zona urbana. Aconteceu na zona rural a partir de 1695, quando Aqualtune lá chegou, posteriormente, Ganga Zumba e, por último, Zumbi dos Palmares, que lutou em prol da liberdade não só do povo negro, mas de todo aquele que habitava o Quilombo dos Palmares", explica Zezito.

O professor faz referência a importantes personagens da história do povo negro brasileiro, mas que são pouco conhecidos do grande público, daí a necessidade de inserir esse conhecimento no ensino básico.

"Nós temos grandes coleções, grande acervo documental e precisa que o estudante, principalmente do ensino básico, visite e faça essa pesquisa", defende o pesquisador quilombola.

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